terça-feira, 15 de outubro de 2013

Você não guarda lembranças demais?

Você já se deu conta do quanto você mudou desde que você era criança? Lembra de como tudo era mais simples e prazeroso? Você carregava uma bagagem muito menor. Menos responsabilidades, menos posses, menos ambições, menos lembranças na sua cabeça.

Quais são as responsabilidades de uma criança? Aos três anos, é não fazer xixi na cama; aos oito é estudar e cuidar das suas coisas. E quais são essas coisas? Uma criança tem poucas posses. Geralmente algumas roupas e brinquedos, meia dúzia de livros. As ambições de uma criança podem até ser grandes, mirabolantes, mas não a fazem perder o sono, não são uma obsessão, pelo contrário: são sonhos prazerosos. As lembranças de uma criança são tão poucas e próximas do presente, que chega a ser engraçado ouvi-las dizer: – Quando eu era pequeno…

Você cresceu e cresceram suas responsabilidades, suas posses, suas ambições e suas lembranças. Suas responsabilidades envolvem justamente as posses, as ambições e as lembranças. Você é responsável pelo que tem e pelo que quer ter. E em que se baseia essa responsabilidade? Em suas lembranças. Você guarda lembranças demais. E elas definem, até certo ponto, o andamento da sua vida.

Não acho que devamos esquecer o passado. O passado é a nossa experiência, e devemos tirar proveito disso. Mas a maior parte das lembranças que guardamos não nos serve pra nada; se tínhamos algo a aprender com elas já aprendemos.

Até quando você pretende ficar remoendo o amor não correspondido, a amigo traidor, os desaforos que lhe disseram, o desemprego que você enfrentou, as vezes em que você se deu mal, os foras que levou, os fracassos que experimentou, os parentes que desencarnaram sem resolver as pendengas familiares?

Nada disso contribui em nada. Resolva o que ainda pode ser resolvido e perdoe-se pelo resto. É por causa desse monte de lembranças que mantemos necessidades artificiais, que não correspondem ao que realmente desejamos. Muitas ambições que temos nasceram em momentos marcantes de nossas vidas que hoje não representam mais nada. Os momentos foram, as pessoas ligadas a eles passaram, mas as ambições permaneceram. Por quê? Será que elas não estão ligadas a pessoas e fatos que não fazem mais parte da sua vida? Vale a pena insistir nisso?

E o monte de tralhas que você vai acumulando? Ficando cada vez mais escravo dos seus bens materiais. Não importa o preço deles. Há pobres muito mais escravizados às suas tralhas do que ricos às suas vultosas posses. Quanto mais se compra e se acumula, mais se escraviza, menos livre se é. Há muito mais valor em se abrir mão de coisas materiais do que em adquiri-las.

Observe as pessoas que você conhece. As coisas materiais que elas guardam não se tornam motivo de trabalho e preocupação? Não há nada de errado nas coisas materiais, pelo contrário. Mas elas só são positivas enquanto nos proporcionam conforto e prazer. Se se tornam objeto de cuidados e dores de cabeça é porque perderam o sentido.

Muitas coisas que guardamos não fazem mais sentido em nossas vidas. Objetos que ocupam espaço em nossas casas e lembranças que ocupam espaço em nossas cabeças. Precisamos arejar a casa e a cabeça, precisamos simplificar a vida. Estaremos mais próximos do ideal quando nos contentarmos com o mínimo necessário. Enquanto precisarmos de coisas externas para nos dar satisfação é porque não encontramos a verdadeira satisfação íntima. A verdade é que a satisfação que buscamos está dentro de nós. Algumas coisas têm o poder de despertar essa satisfação, mas ela já existe, é nossa, e não precisa de nada exterior para existir.

Texto: Morel Felipe Wilkon

Fonte: http://www.espiritoimortal.com.br

Aranauam

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